A Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (FACISC) divulgou sua análise sobre o desempenho da economia em 2025 e as perspectivas para 2026. O levantamento mostra que o estado manteve ritmo de expansão acima da média nacional, mesmo diante de incertezas fiscais e de efeitos externos, como o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos. Ao longo do ano, a entidade também atuou de forma articulada junto às associações empresariais e ao poder público, com foco em sustentar a competitividade do setor produtivo e defender pautas estratégicas ao desenvolvimento econômico.
Segundo a FACISC, Santa Catarina terminou o ano como a terceira economia que mais cresceu no país, com índices que superaram o cenário brasileiro. No comércio e na indústria, o avanço foi três vezes maior que a média nacional.
O presidente da FACISC, Elson Otto, afirma que o estado demonstrou capacidade de reação. “Santa Catarina mostrou que consegue se adaptar à novos cenários e sustentar crescimento, mesmo em um ambiente de instabilidade. A resiliência do setor produtivo, sua alta diversidade e competitividade, bem como o alto poder de compra das famílias e o crescimento populacional foram importantes para o crescimento da economia no ano”, declarou.
Retrospectiva de 2025
A indústria de transformação registrou o terceiro maior crescimento do país. Setores como metalmecânico, máquinas, alimentos e cerâmica avançaram, impulsionados pelo mercado interno e pelo desempenho das exportações. Já os segmentos de madeira e móveis sofreram impacto direto do tarifaço.
No comércio, Santa Catarina permanece por seis meses consecutivos na liderança nacional em supermercados, hipermercados e itens de uso pessoal e doméstico. O estado também tem mantido a liderança nacional por quatro meses no comércio de material de construção. Nos serviços, o estado figurou entre as três maiores altas nas atividades voltadas ao consumo das famílias e na administração de empresas.
Esses cenários acompanham a atuação da FACISC no apoio às empresas, com ações voltadas à gestão, geração de negócios e fortalecimento do ambiente empresarial nos municípios.
Como reflexo do ambiente econômico mais aquecido, a resiliência do setor produtivo incentivou os serviços administrativos, enquanto o dinamismo do emprego e o crescimento dos salários impulsionaram os serviços e o comércio das famílias. O mercado de trabalho registrou 4,5 milhões de pessoas ocupadas ao longo do ano, o maior valor da série histórica. O avanço do trabalho por conta própria compensou a retração das contratações formais em alguns setores. A taxa de desemprego permaneceu como a menor do país entre janeiro e setembro, com queda de 24% em relação ao mesmo período de 2024. A renda média subiu e se tornou a segunda maior do Brasil, 21% acima da média nacional.
O crescimento populacional também segue gerando influência sobre a economia. Além de ter o maior saldo migratório do país, Santa Catarina continua com o maior crescimento do país, dentre as maiores economias, o que sustentou o ritmo da construção civil mesmo sob juros elevados. Quando se trata deste tema, em 2025, a FACISC trouxe o tema da habitação para o centro do debate econômico, ao levantar dados inéditos sobre o déficit habitacional, estimado em 190 mil moradias, e defendeu parcerias público-privadas como alternativa para atrair e reter mão de obra no estado.
Paralelamente aos desafios internos, o desempenho da economia catarinense também foi influenciado pelo comportamento do comércio exterior. As exportações aumentaram 4% até novembro. O estado subiu uma posição no ranking nacional e passou a ocupar o nono lugar, impulsionado pelas vendas de produtos do agronegócio e pelo aumento das exportações para vários continentes. O agronegócio contribuiu com vendas de tabaco, proteína animal, papel kraft, máquinas agrícolas, ração animal e madeira serrada. A suspensão das exportações de carne de aves para a China foi compensada por novos mercados no Oriente Médio, Ásia, América Latina e África. Santa Catarina também ampliou exportações para América do Sul e alcançou valores relevantes na Oceania e na África.
Os resultados refletem o esforço contínuo de Santa Catarina em expandir sua presença global. O movimento está alinhado com a atuação da FACISC na agenda de internacionalização, que reuniu representantes consulares de 12 países e ampliou parcerias estratégicas. Por meio do Conselho de Comércio Exterior e Negócios Internacionais (CONCENI), a Federação também conectou mais de 300 empresas aos núcleos de comércio exterior, focando em inteligência de mercado, diplomacia empresarial e suporte prático para diversificar os mercados catarinenses.
Esse esforço também foi respaldado pela relevância do agronegócio, setor que, em 2025, sustentou sua posição de destaque nas exportações, representando cerca de 70% das vendas internacionais de Santa Catarina. O lançamento do Mapa do Agro, pela FACISC, serviu como base para discutir políticas públicas de competitividade e agregação de valor.
Além disso, o estado conquistou a segunda colocação nacional em inovação e a terceira em potencial de mercado, segundo o Índice de Competitividade dos Estados, marcando as melhores classificações já alcançadas desde a criação do índice.
Otto destaca a importância de políticas que incentivem a diversificação gradual das exportações. “O ano de 2025 reforçou a importância de reduzir a dependência de poucos mercados internacionais. Apesar disso ser algo a ser conquistado em longo prazo, muitos setores catarinenses já vêm conseguindo aos poucos essa ampliação de parceiros comerciais, o que é muito positivo e precisa continuar em 2026”, afirmou.
Desafios identificados
A FACISC aponta fatores que limitaram o desempenho da economia. A desaceleração da economia nacional, o patamar elevado de juros e a dependência de setores exportadores em relação aos Estados Unidos afetaram principalmente a indústria. As indústrias de têxtil e confecção desaceleraram em razão da concorrência desigual com produtos chineses. Na agropecuária familiar, atividades como arroz e leite operaram com margens mais apertadas devido a custos elevados e recuo nos preços internacionais.
A falta de mão de obra aparece como outro ponto crítico. Apesar do estado ter registrado recorde na quantidade de pessoas ocupadas na economia e recebido cada vez mais imigrantes, empresas relatam cada vez mais dificuldades para preencher vagas em todos os níveis. Santa Catarina está entre os que mais demandarão profissionais até 2027. Diante desse cenário, a FACISC promoveu ao longo de 2025 encontros e diálogos com universidades, governos e setores públicos e privados, com o objetivo de aproximar educação, qualificação profissional e as reais demandas do setor produtivo. Segundo a entidade, falar sobre desenvolvimento sem tratar da educação é um erro estratégico, assim como discutir educação sem considerar os desafios e as oportunidades das empresas representa uma desconexão com a realidade econômica.
Essa preocupação se reflete diretamente nos indicadores educacionais do estado. O relatório também aponta preocupação com a educação básica em Santa Catarina, por formar a futura força de trabalho das empresas. O estado registrou queda no ranking educacional do Índice de Competitividade do CLP nos últimos anos e, em 2025, ocupa a nona colocação, após ter figurado em posições mais elevadas em edições anteriores.
Além disso, a expansão populacional acima do esperado fez com que as políticas habitacionais dos últimos anos não conseguissem atender toda a demanda por moradia no estado, sendo necessário aumentar o debate sobre parcerias público-privadas. A habitação é um dos pontos cruciais tanto para o desenvolvimento econômico, como para atrair mais mão de obra para as empresas.
Perspectivas para 2026
A FACISC projeta para 2026 um crescimento próximo ao registrado em 2025, sustentado ainda pelo agronegócio e pela ampliação dos mercados internacionais alcançados no último ano. O resultado dependerá dos efeitos dos acordos com os Estados Unidos, do avanço na redução das incertezas fiscais e do ritmo das políticas de diversificação comercial.
O consumo das famílias tem o potencial de aumentar ainda mais com a isenção do Imposto de Renda para parte da população, em vigor a partir de 2026. A necessidade das empresas se adaptarem a novos cenários, a procura por mão de obra e o fluxo migratório também podem manter o crescimento dos setores da construção, comércio e serviços de uso indispensável no dia a dia das famílias, mesmo com juros em nível alto.
Entre os riscos apontados estão a manutenção das taxas de juros em patamar elevado, a restrição ao crédito, o ambiente fiscal indefinido e o impacto de um ano eleitoral. Apesar da redução nas taxas de juros prevista para ocorrer em março, seus efeitos na economia demoram um tempo para ocorrer, previstos mais para o final do ano e início de 2026. Adicionalmente, dependendo da situação do país, o Banco Central pode demorar mais tempo para começar a reduzir a Selic.
Com a proximidade de um ano eleitoral, a FACISC destaca o Voz Única como ferramenta estratégica para organizar as demandas do setor produtivo e qualificar o debate com candidatos e gestores públicos. A iniciativa busca transformar prioridades empresariais em agendas estruturantes, capazes de oferecer previsibilidade e fortalecer o ambiente de negócios em Santa Catarina.
No cenário externo, um dos principais desafios para 2026 está na mudança da lógica global dos acordos comerciais, marcada pela crescente utilização de tarifas sobre exportações. Essa tendência busca tanto ampliar a arrecadação quanto proteger as indústrias nacionais e fortalecer posições em negociações internacionais. O México, por exemplo, já sinalizou a intenção de elevar tarifas sobre diversos produtos brasileiros, medida que pode impactar diretamente Santa Catarina.
Nesse contexto, a FACISC tem se posicionado junto às autoridades brasileiras, solicitando que os diálogos diplomáticos com os governos internacionais sejam tratados como prioridade, diante dos potenciais impactos sobre setores estratégicos da economia catarinense.
De forma semelhante, o Brasil também avalia o aumento de impostos de importação sobre determinados itens como estratégia de arrecadação, o que, dependendo do setor, pode elevar os custos de produção, já que o estado é fortemente dependente da importação de insumos industriais.
Apesar das condições desafiadoras, Elson Otto avalia que o estado possui bases sólidas. “Santa Catarina demonstrou capacidade de reação em 2025. Essa característica nos permite projetar 2026 com prudência, mas com confiança de que o setor produtivo poderá avançar”, concluiu.







