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Uma missão foi cumprida neste primeiro turno das eleições 2022 em Santa Catarina. Mais uma vez, o Projeto Voz Única completou com sucesso o círculo virtuoso em que as associações empresariais catarinenses reúnem junto às comunidades as principais demandas regionais, a Facisc utiliza o material para elaborar uma ampla cartilha com o diagnóstico apontado pelas bases e esse material, por fim, volta às regiões e chega aos candidatos em eventos presenciais em 11 regiões. Um trabalho que é o ponto de partida para a segunda e ainda mais desafiadora etapa do projeto: manter sendo ouvida, de forma clara e precisa, a Voz Única junto aos representantes do povo catarinense.
Enquanto isso, no entanto, é importante ouvir também o que disseram as urnas no Estado no dia 2 de outubro. Santa Catarina viveu uma nova onda eleitoral potencializada pela votação do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, entre os catarinenses. O apelo popular de Bolsonaro no Estado colocou como protagonista da política estadual o PL – um partido que tinha como maior feito até agora a eleição do senador Jorginho Mello em 2018, mas que nunca havia sido relevante nas disputas pelo poder no Estado e nos maiores municípios. Agora, Jorginho Mello ficou em primeiro lugar na eleição para governador e é franco favorito contra Décio Lima, que levou o PT pela primeira vez na história a um segundo turno em Santa Catarina. A eleição estadual nacionalizou e teremos um segundo turno entre os candidatos de Bolsonaro e do ex-presidente Lula (PT), que também se enfrentam na disputa presidencial.
Na correlação de forças políticas do Estado, a nacionalização da disputa foi um duro golpe em forças políticas tradicionais. O MDB apostou no apoio à reeleição do governador Carlos Moisés (Republicanos) e novamente está fora do segundo turno, embora tenha conseguido se manter relevante no Legislativo. O PSD também buscou um candidato em outro partido, o ex-prefeito florianopolitano Gean Loureiro (União Brasil), que ficou em quarto lugar. Os pessedistas encolheram em votação e viram naufragar o projeto de reconduzir ao Senado o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) – derrotado de forma acachapante pelo novato Jorge Seif (PL), o candidato de Bolsonaro. O tradicional Progressistas viu a força eleitoral de Esperidião Amin ser reescalonada. Ele ficou em quinto para o governo, a deputada federal Angela Amin e o deputado estadual João Amin não se reelegeram. Nomes tradicionais e experientes da política foram derrotados nas urnas na disputa pela Câmara dos Deputados e pela Assembleia Legislativa.
O eleitor deu um salvo conduto para candidatos da legenda 22, a mesma do presidente, e promoveu 50% de renovação nas cadeiras catarinenses em Brasília e de 40% nas vagas do parlamento estadual. Nesse ponto, um alerta importante. O voto regional foi deixado de lado em diversos locais do Estado. Com o excesso de candidaturas gerado pelo fim das coligações na eleição proporcional, diversas regiões conviveram com múltiplas candidaturas locais que atrapalharam umas às outras. Nunca foi tão importante ser estratégico no voto.
A Grande Florianópolis, por exemplo, ficou sem deputado federal. Joinville, maior colégio eleitoral do Estado, tinha três e agora terá apenas um – foi suplantada no Norte por Jaraguá do Sul, que manteve duas vagas. O Vale do Itajaí, com quatro deputados federais, e o Oeste, com três, fizeram valer seus eleitorados. O Alto Vale e a Serra, motivadas por campanhas de voto regional, fizeram o dever de casa e mantiveram a representação. O Planalto Norte, no entanto, pela segunda vez consecutiva fica sem deputado federal.
Na Assembleia Legislativa, o quadro se repete. As regiões de maior eleitorado garantiram suas vagas de forma natural e as regiões de menor densidade eleitoral dependeram do sucesso das campanhas de conscientização para o voto local feita pelas associações empresariais. Ponto positivo, mais uma vez, para o Alto Vale e para a Serra. Novamente, e também pela segunda eleição consecutiva, o Planalto Norte ficou sem representante.
Os resultados apontam que as campanhas pelo voto local talvez precisem ser efetivadas mais cedo, atuando para impedir ou minimizar o excesso de candidaturas. É triste, mas é do atual sistema político brasileiro, que a representação regional dependa de cálculos e estratégias. Uma solução a ser encampada pelas entidades empresariais, em níveis regionais, estaduais e nacional, é a defesa do voto distrital. Nele, cada região tem seu número de cadeiras pré-determinado e as comunidades escolhem quem será seu eleito de forma majoritária, como uma eleição de prefeito. Todo modelo político tem qualidades e defeitos, mas com uma sociedade que vê cada vez mais distantes eleitores e eleitos, o choque de proximidade causado pelo voto distrital poderia dar novo vigor à política brasileira.
Por Upiara Boschi