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O segundo turno das eleições para governador em Santa Catarina colocou frente a frente dois candidatos que representam a polarização nacional entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), que também se enfrentam diretamente nas urnas pelo comando do País. Quem olha os programas eleitorais de Jorginho Mello (PL) e de Décio Lima (PT) pode até mesmo achar que se trata de mera extensão do horário eleitoral das lideranças nacionais de suas legendas.
O curioso é que, embora haja uma diferença praticamente abissal entre o PL e o PT, entre Bolsonaro e Lula, os catarinenses Jorginho e Décio tem trajetórias muito mais amenas do que sugere o raivoso confronto entre os 22 e o 13. Isso permite fazer algumas projeções sobre o que esperar do perfil do próximo governo e, especialmente, no que eles podem ser diferente da atual gestão do governador Carlos Moisés (Republicanos).
Jorginho e Décio, para começar, não são novatos na política. Muito longe disso. Em 1976, aos 18 anos, o candidato do PL venceu sua primeira disputa eleitoral, para vereador em Herval d’Oeste, onde chegou a presidir a Câmara. Depois de um hiato de quase 20 anos, iniciou uma série de mandatos a partir de 1994, sempre no parlamento: quatro vezes deputado estadual, duas vezes deputado federal, senador.
O petista também foi cedo para a urna. Em 1982, aos 22 anos, concorreu a deputado estadual pelo recém-criado PT. A primeira vitória viria dez anos depois, como vereador em Blumenau. Foi eleito prefeito da cidade em 1996 e reeleito em 2000. Chegaria à Câmara dos Deputados para três mandatos entre 2007 e 2014. Disputa sua segunda eleição para governador, depois de terminar em quinto lugar em 2018.
Assim, não se pode esperar deles que precisem aprender as regras e as liturgias do jogo político ocupando o maior cargo eletivo do Estado, como aconteceu com Moisés. Em janeiro de 2019, entrevistei o governador e ele dizia acreditar que a Assembleia Legislativa seria a menor de suas preocupações. Não foi, nunca será – Jorginho e Décio tem experiência para saber isso.
Ao mesmo tempo, o tempo de parlamento e o temperamento de ambos fizeram deles homens de diálogo e composição. Décio está à direita do PT, assim como Jorginho está à esquerda do PL. Ambos tendem a ser mais pragmáticos do que ideológicos, ambos tendem a assumir a tarefa de controlar e dar limites aos radicalismos dos seus. É uma boa notícia para Santa Catarina, seja quem for o escolhido nas urnas.
Por Upiara Boschi
Jornalista e consultor do projeto Voz Única