Aumento nos investimentos é necessário para alcançar as metas firmadas no Acordo de Paris para 2030
O uso de energias sustentáveis é cada vez mais uma necessidade mundial e em Santa Catarina não poderia ser diferente. No Sul do Brasil, os investimentos devem ser ainda maiores visto que a região tem padrões elevados de consumo de energia. A média do consumo das residências brasileiras é de 152,2 kWh/mês, já o Sul do país fica com a maior média, 267,2 kWh/mês, bem distante da média nacional. “Quando surgiram no mercado, as fontes renováveis de energia enfrentaram forte resistência, principalmente devido ao elevado custo que demandavam. No entanto, com o passar do tempo, a humanidade foi se deparando com a necessidade de encontrar alternativas aos combustíveis fósseis, fazendo com que energias limpas, como a solar, eólica e hidráulica, conquistassem, cada vez mais, espaço”, explica Carlos Eduardo Pscheidt, Mestre em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal de Santa Catarina e professor de Engenharia Elétrica.
Só em 2019, o valor investido em fontes de energia renováveis foi de aproximadamente US$ 282,2 bilhões no mundo, segundo levantamento da BloombergNEF (BNEF), empresa de pesquisa do setor. No Brasil, não é diferente. Com o avanço da tecnologia e do interesse global por uma economia mais sustentável, as fontes renováveis têm ocupado um espaço significativo na nossa matriz energética. Segundo informações da BNEF, o investimento nesse tipo de energia no país foi de aproximadamente US$ 6,5 bilhões em 2019. Aumento de 74% em relação ao ano anterior.
Mesmo com todo este aumento, a Agência Internacional de Energia, a Agência Internacional de Energias Renováveis e consultora especializada DNV GL, afirmam que seguindo os investimentos atuais e o ritmo atual de implementação de energias renováveis, o mundo não conseguirá alcançar as metas firmadas no Acordo de Paris para 2030, ou seja, o mundo caminhará para o colapso ambiental. De acordo com a consultoria, as temperaturas mundiais aumentarão 2,4 graus Celsius até o final do século caso sejam mantidos os investimentos. “Isso porque vemos o avanço cada vez maior da transição energética, que requer a multiplicação em mais de 10 vezes a energia solar e cinco vezes a energia eólica, e isso, em combinação com outras medidas tecnológicas, para limitar o aquecimento global bem abaixo de 2°C”, explica Pscheidt. “A transição está progredindo a uma taxa mais rápida do que o esperado, embora ainda seja muito lento para limitar o aumento global de temperaturas”.
Medidas como o aumento da produção de energia eólica, devem estar aliadas a outras, como a de energia solar, e que estão previstas no Acordo de Paris. “Essa combinação de medidas inclui aumentar a potência da solar para 5 TW e eólica para 3 TW até 2030, o que serviria para atender 50% do consumo anual de eletricidade do mundo”. Além disso, multiplicar por 50 a produção de baterias para os 50 milhões de veículos elétricos necessários a cada ano até 2030, juntamente com investimentos em novas tecnologias para armazenar energia e soluções elétricas em excesso, de modo que as redes elétricas assimilem o crescente fluxo de energia solar e eólica devido a sua intermitência natural. Outro destaque é a necessidade de investir anualmente mais de US$ 1,5 trilhão na expansão e reforço de redes de energia elétrica até 2030, que inclui redes de ultra-alta tensão e soluções amplas para adaptar à demanda e equilibrar a quantidade variável das renováveis. Buscar aumento da eficiência energética global em 3,5% anualmente na próxima década, entre outras.
Santa Catarina
O estado de Santa Catarina é o quarto estado do país com maior número de unidades consumidoras com sistemas solares fotovoltaicos. Até 2019, a ANEEL apontou 14.177 unidades consumidoras em Santa Catarina na Geração Distribuída Solar Fotovoltaica. O Estado fica atrás apenas de Minas Gerais (referência no Brasil em geração solar fotovoltaica), São Paulo e Rio Grande do Sul. Considerando a potência instalada Santa Catarina fica em sexto lugar no país.
Para o Pscheidt, mesmo Santa Catarina tendo bons índices, ainda há muito que crescer. “Precisamos buscar alternativas para o abastecimento de água, uso sustentável de energia, tratamento de esgoto, reciclagem e incineração, plantas para separação, lixo eletrônico, uso de biogás para tratamento e geração de energia”. Por conta disso, e para incentivar a produção e o uso dessas energias, a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina realiza entre os dias 16 e 26/11, o Seminário Técnico: Saneamento e Energias Renováveis – Experiências da Baviera – Alemanha. O evento contará com palestras de nomes renomados no assunto e exemplos reais de como as energias renováveis podem ser uma realidade ainda maior em Santa Catarina. Serão sete palestras com especialistas alemães, visitas virtuais e chats com os especialistas. O evento é realizado pela a Facisc e o Instituto Educacional da Economia Bávara (bbw), da Alemanha. Ta,bém faz parte de uma ação do Programa de Desenvolvimento Econômico Local (Del) desenvolvido pela Facisc.
Exemplos
Alguns exemplos da Alemanha podem ser implantados em Santa Catarina desde que haja boa vontade e conhecimento técnico. O Sistema de Abastecimento de Água da cidade de Memmingen é um deles. A vila energética mais famosa da Europa, Wildpoldsried, é outro modelo que pode ser adaptado em Santa Catarina. São 11 torres de energia eólica, duas delas divididas com a vila vizinha, sistemas de energia fotovoltaica e estação de tratamento de águas residuais ecológica. A segunda maior cidade do estado da Baviera, Nuernberg, tem cerca de 560 mil habitantes e 99% das casas estão conectadas com a planta de tratamento de efluentes, um modelo que faz toda a diferença em termos de sustentabilidade. Já planta para produção de biogás para tratamento de estrume de animais e geração de energia da cidade de Isny é um desafio que pode ser alcançado no estado catarinense.
Todos esses exemplos serão apresentados no evento, que tem inscrições gratuitas pelo site https://www.bbw-international.com/index.php?id=86